domingo, 5 de dezembro de 2010

Entrevista com Margarita e Sara - Semana de Sociais 2010

"É preciso um novo sentido para a reivindicação da mulher", dizem especialistas.

A Semana de Ciências Sociais da Fundação Santo André, que aconteceu de 25 a 30 de outubro, mobilizou pesquisadores do Chile, Argentina, Colômbia. No dia 27 de outubro, as pesquisadoras Margarita Iglesias Saldaña, do Chile, e Sara Beatriz Guardia, do Peru, palestraram sobre o tema: Lutas Sociais, Revoluções e Identidade Latino-Americana e, de acordo com as palestrantes é preciso ter um novo sentido para as reivindicações da mulher, já que os temas que são abordados atualmente são as condições da mulher, quando o correto deveria ser sobre a condição social da mulher.

Em entrevista exclusiva para a Fundação Santo André, as pesquisadoras relataram que as reivindicações das mulheres junto aos movimentos sociais são provenientes dos anos 70 e 80. Para Sara Beatriz Guardia, existe a capacitação dos setores populares referente às políticas que vão de encontro aos direitos femininos e como conseqüência o apoderamento da mulher em todos os espaços sociais. Para a pesquisadora, o feminismo nos anos 70, no Peru, abriu as portas para as conquistas, pois batalhou junto com os homens e abriu espaços para a participação política.

Segundo a pesquisadora, essa reivindicação dos anos 70 conquistou a muito custo a maior presença nos cargos públicos e organizações populares. "Por esse motivo, acredito que a luta da mulher deve se reformular, é preciso um novo protesto para o século XXI, creio que não é mais possível as reivindicações do feminismo dos anos 70 na América Latina e tenho esta visão como observadora, não como alguém que está militando no movimento feminista", afirmou.

Já para a pesquisadora chilena Margarita Iglesias Saldaña, as mulheres latino-americanas das décadas de 80 e 90 foram importantes naquele momento, pois na época em que se encontravam se incorporaram aos movimentos. "Isso foi fundamental para abrir caminho, como as mulheres da Praça de Maio em Buenos Aires, e mais recentemente as mulheres que clamam por justiça por conta do genocídio na Guatemala". Para Saldaña, muitos movimentos se incorporaram e muitas mulheres subiram na política na América Latina. "As mulheres optaram por incorporar-se na governabilidade, como no Chile, Argentina e Brasil, e também incorporaram essa reivindicação através do voto", relatou.

Saldaña informa que as mulheres na governabilidade devem se incorporar a um ministério ou secretaria específica, e não da família, como em alguns governos. "Todas as mulheres já estão no cargo da família principalmente da faixa etária de 30 a 50 anos e se articularam através de associações é produtivo para os movimentos sociais. Isso dá a sensação que no Chile é muito claro."

Perda de sentido - A pesquisadora informou que participou do evento Outubro Rosa, que aconteceu em Florianópolis em outubro e que tratou de palestras sobre prevenção do câncer e debates sobre as condições da mulher. "Este evento reuniu cerca de 4,5 mil pessoas, e o que me impressionou foram os temas que estão tratando. Na sociedade contemporânea na América Latina, não se pode debater apenas a condição da mulher, mas sim sua condição social, esse é um problema que estamos enfrentando, que é a perda de sentido da reivindicação da mulher."

Para Saldaña o momento atual é de investigação, e e isso deve ser incorporado e debatido nas universidades. "Há o estudo do gênero e do feminismo, e as mulheres estão incorporadas no centro da investigação em busca de sentido para novas projeções de uma nova explicação do mundo", finalizou.

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