quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Resumo - CIÊNCIAS SOCIAIS E A ÁFRICA: CONTRADIÇÕES/ CIÊNCIAS SOCIAIS E RACISMO

No último sábado (dia 01/10), na sala 32 da FAFIL, ocorreu mais uma etapa do evento “As Ciências Sociais e os Desafios do Mundo Contemporâneo”, com as apresentações dos ex-alunos Weber Lopes Goes e Deivison Nkosi. Os palestrantes trataram, respectivamente, dos temas “Ciências Sociais e Racismo” e “Ciências Sociais e a África: Contradições”.

A discussão foi muito interessante e contou com grande número de participantes, alunos e ex-alunos da Fundação Santo André, membros de movimentos de estudos e formação política (como o Grupo Kilombagem) e professores.

Os palestrantes expuseram o surgimento do racismo na Europa como forma de legitimação de seu interesse em colonizar os povos originários dos continentes africano, asiático e americano, e assim realizar transações e saques das riquezas destes povos, além ainda de utilizar estes indivíduos nativos como mão-de-obra escrava; as teorias formuladas visam sustentar esses intentos e conter qualquer tentativa de manifestação contrária.

A colocação em um plano inferior do indivíduo africano (no qual se centrava o debate) ocorreu pela teorização de que este compunha uma “raça” inferior. Tanto a eugenia positiva como a chamada eugenia negativa são teorias que atacam a plena liberdade das relações sociais entre indivíduos de origens diferentes. A eugenia positiva, ao reconhecer que o cruzamento entre indivíduos de “raças” distintas levaria ao “empobrecimento das qualidades raciais das futuras gerações”, propunha a realização de casamentos que permitissem uma união de genes iguais ou superiores, visando um “melhoramento genético”. Já a eugenia negativa é aquela que deu base a organizações como a Ku Klux Klan - KKK e o Nacional-Socialismo alemão (o nazismo), pois considera que os indivíduos considerados de “raça inferior” deveriam ser eliminados.

Mesmo com a superação de uma definição biológica das “raças” humanas, o racismo não foi abolido da sociedade. Muitos intelectuais realizam um raciocínio mecânico, no qual a eliminação de uma teoria de “raças” humanas feita pela biologia acaba com o racismo, uma vez que este tem suas raízes na primeira. Eles não conseguem - ou não querem - enxergar que o racismo mantém-se na esfera social, uma vez que as aspirações dominantes de expansão capitalista embutiram as ideias racistas no meio desta lógica.

A formulação européia tratou de fazer uma divisão entre as características das quais os brancos e os negros são dotados. Para eles, o indivíduo branco, o europeu, é aquele que detém a razão, o conhecimento, a civilidade. Enquanto o negro, o africano, é aquele que concentra características como a emoção, o corpo, as cores. Da mesma maneira, o europeu permanece como indivíduo padrão, modelo, inspiração, sendo assim o indivíduo universal. Por sua vez, o africano (assim como o indígena, o asiático, etc.) é o outro, o diferente, o específico. Com a criação desta “África Mítica”, mais uma vez, há a intenção de colocar o europeu como indivíduo superior.

Opondo-se a esta antiga concepção, surgem movimentos como, por exemplo, a Negritude e o Afrocentrismo, buscando valorizar aquilo que é da história e da estética do negro. Assim, projeta-se a superação do racismo elevando o orgulho do negro. Porém, deste modo, acaba-se por permanecer dentro de uma realidade racista, pois há um enaltecimento da cultura afro, mas contida no discurso do específico, perpetuando a divisão de características (razão x emoção).

A necessidade existente - como bem colocaram os palestrantes - é a compreensão da história humana em sua universalidade. Apenas assim se consegue compreender como há o surgimento das ideias através do desenvolvimento da atividade humana no mundo material e como isso resultou na degradação ideológica das partes oprimidas da humanidade. Há que se estudar o mundo, incluindo nele a totalidade dos elementos que o compõem, ou seja, não excluindo ou pretendendo desqualificar aqueles que foram subjugados no evolver histórico. Esta discussão se faz necessária para que se possa realmente entender o que é o racismo e como combatê-lo.

Por Guilherme Sávio Marchi

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