segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Semana de Sociais 2011 - 1º dia

A Semana de Ciências Sociais teve início nesta segunda, 17/10/2011 com a palestra Questão Nacional e Revolução Burguesa. Primeiramente, o Profº Marcos Silva (USP) tratou o tema “Por que reler Nelson Werneck Sodré hoje?” o profº iniciou lembrando além da importância do historiador, o fato de se comemorar nesse ano o centenário do nascimento de Sodré, que publicou livros desde a década de 1930 até meados de 1960. Suas publicações variavam entre um lado historiador (com obras clássicas, manuais e monografias detalhadas) e um lado mais jornalista e memorialista, essencialmente até 1968, por conta da repressão. O profº ressaltou ainda o fato de Sodré ter se formado na Academia Militar – e não em uma área das Ciências Humanas, como se poderia esperar – fato que por vezes gerou controvérsias e alimentou seus críticos. O profº Marcos colocou a questão da carga de humanas que era ensinada na Academia Militar à época de Werneck Sodré – provavelmente diferente de hoje em dia, aparentemente mais “tecnicista” – que possibilitou que Werneck fosse um erudito. Além disso, refutando a idéia que generaliza o meio militar como um todo que se apoiou na camada mais conservadora da burguesia para possibilitar o golpe, o profº Marcos colocou a figura de Sodré como um exemplo das divergências existentes dentro do corpo militar brasileiro, uma vez que Sodré foi um historiador marxista, apesar de sua posição como militar.

O profº Marcos colocou em evidência as ideias de um nacionalismo com propostas de mudança, os trabalhos sobre o capitalismo brasileiro e a formação de uma classe média nacional (formada por intelectuais, militares e artistas), além da posição que Sodré assumia enquanto historiador, já que pra este, segundo o profº Marcos, a pesquisa histórica não tinha uma posição neutra, ao contrário, assumia um papel de intervenção política. Considerando o tamanho e a relevância da obra de Sodré e da tradição marxista – por vezes, forçosamente esquecida – o profº ressaltou a importância de se estudar criticamente, tanto o autor quanto o próprio Marx.

Em seguida tivemos o Profº Claudinei Rezende (CUFSA), tratando do tema “Antonio Gramsci: notas sobre Maquiavel e sobre a revolução burguesa”. Claudinei iniciou sua exposição lembrando que nesse ano completam 120 anos do nascimento de Gramsci e que sua formação inicial foi na área de Letras. Tratou do cenário da Itália da época em que Gramsci escreve, uma Itália que convivia com a industrialização ao norte e com o “atraso” ao sul, fruto de sua unificação tardia e de uma “revolução burguesa pacífica” diferente da revolução burguesa clássica. Tratou também da crise que a Europa atravessava entre 1919 e 1921, se reconstruindo dos danos da Primeira Guerra, além do papel de Gramsci na formação do Partido Comunista Italiano e seu apoio à III Internacional. O período, que Gramsci chamaria de “crise orgânica”, possibilitou a emergência do fascismo. Gramsci indicava a necessidade de uma frente de luta anti-facista, composta pelo que chamava de “intelectuais orgânicos”. Gramsci acabaria preso em 1926, onde escreve os Cadernos do Cárcere.

O profº Claudinei explicitou que Gramsci entendia que Maquiavel ao escrever O Príncipe, no século XVI, estava na verdade escrevendo um manifesto político para os potenciais revolucionários – a burguesia – e não para ajudar o príncipe em si (embora direcionasse o texto ao príncipe), o que torna Maquiavel um “proto-Jacobino”. Nesse raciocínio, Gramsci traça uma ligação entre Maquiavel e Marx, no sentido que o material escrito pelo filósofo alemão sobre o capital, poderia servir à classe trabalhadora. Nesse ponto o profº Claudinei destacou algumas limitações do pensamento de Gramsci nesse aspecto. Primeiramente o entendimento de Maquiavel sobre a maldade natural do homem o aproxima mais de Hobbes e da teoria da guerra de todos contra todos, o afirma a necessidade de um Estado controlador das vidas humanas, o que faria de Maquiavel um “proto-Totalitarista”. Em segundo lugar, além de que, para Marx, o Estado é superável em determinadas condições históricas, Marx produz sua teoria acerca do capital, seu funcionamento e sua possível derrocada diretamente para a classe que ele considera a revolucionária, o proletariado. Dadas essas diferenças, Claudinei tratou o momento atual da crise do capital como um momento também de “crise orgânica” , agravado pela desorganização da esquerda, onde se faz necessário entender a classe trabalhadora atual, que têm se organizado de forma separada, bem como quem são os trabalhadores que podem atingir em cheio o capital com paralizações e manisfestações nos dias atuais.

Por Erik das Dores

Acompanhe a programação da Semana:

PALESTRAS

Local: Auditório da Fafil
Horário: 20h00

18 de outubro - A Crise Mundial
O negativo do capital – Jorge Grespan (USP)
A crise econômica de 2008-2011: o capitalismo está se aproximando de seus limites históricos? – Valério Arcary (Cefet)

19 de outubro Renovações do Marxismo
Leituras de Gramsci – Lincoln Secco (USP)
Lukács e o debate sobre a arte de vanguarda – Leandro Cândido de Souza (CUFSA)

20 de outubro Crise do Capital e Perspectivas de Futuro
Marx e a crítica do trabalho no capitalismo – Mário Duayer (UFF)
Marx e a crise do capital – Ivan Cotrim (CUFSA)

21 de outubro Insurreições no Mundo Árabe
Insurreições árabes: dilemas e caminhos – José Arbex (PUC-SP)
Revolução do Egito: o que o mundo está presenciando? – Luis Gustavo Porfírio
A Primavera Árabe em chave revolucionária – Simone Ishibashi

COMUNICAÇÕES DE PESQUISA

17 e 21 de outubro – 18h00 – Sala 33 – Fafil
Inscrições até 15/10: www.colegiadosociais.com/semana2011
Coordenação: Prof. Lívia Cotrim

DEBATES E EXPOSIÇÕES

Horário: 18h00 às 20h00

17 a 21 de outubro A Questão Agrária no Brasil Ontem e Hoje
Sala 34 – Fafil Coordenação: Prof. Marineide S. L. Santos

17 a 21 de outubro A Revolução no Norte da África e no Chile
Sala 32 – Fafil Coordenação: Hugo Ariel Alvarez, Caio Giovanni Santos e Renata Vieira da Silva
18 de outubro O movimento chileno – Miguel Tavares de Almeida
20 de outubro As insurreições africanas – Miguel Tavares de Almeida

18 de outubro A relevância do movimento de favela para a cidade de Santo André
Sala 33 – Fafil Edinilson Ferreira dos Santos (MDDF – Santo André)
Coordenação: Nathália Andrade dos Santos

19 de outubro Ciências Sociais, Educação e Sociedade Capitalista
Sala 33 – Fafil Bruno Monteforte

20 de outubro Ciências Sociais, Mercado de Trabalho e Compromisso Ético
Sala 33 – Fafil Marcos Melão Monteiro

20 de outubro A Copa de 2014 e seu legado (anti)social para o futebol paulista: apontamentos
Sala 34 – Fafil Kadj Oman (ANT – Associação Nacional dos Torcedores e Torcedoras)
Coordenação: Erik das Dores e Guilherme Sávio Marchi

MOSTRA DE CINEMA

Local: Auditório da Fafil
Horário: das 18h00 às 20h00
Coord.: Michel da Silva e Willer de Oliveira

17 de outubro Waking Life
EUA, Richard Linklater, 2001, 99 min.

18 de outubro Dzi Croquettes
Brasil, Tatiana Issa e Raphael Alvarez, 2009, 110 min.

19 de outubro Fela Kuti – A Música é a Arma
França, Stéphane Tchal-Gadgieff e Jean Jacques Flori, 1982, 53 min.

20 de outubro Zeitgeist
EUA, Peter Joseph, 2007, 118 min.

21 de outubro Cortina de Fumaça
Brasil, Rodrigo Mac Niven, 2010, 88 min.

ENCERRAMENTO

22 de outubro
Local: ALPHARRABIO Livraria e Editora – Rua Eduardo Monteiro, nº 151
13h00 Resistências Populares na América Latina
A Comuna de La Paz – Everaldo de Oliveira Andrade (UNG)
Crônica de tempos difíceis:aspectos da história contemporânea argentina – Sílvia Elena Alegre
Chile: as mobilizações da juventude e a crise econômica da América Latina – Mayara Conti
16h00 Apresentação musical

Lançamentos:
Karl Marx. Grundrisse
Ivan Cotrim. Karl Marx – A Determinação Onto-negativa Originária do Valor
Everaldo de Oliveira Andrade. Bolívia: Democracia e Revolução. A Comuna de La Paz de 1971

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