terça-feira, 18 de outubro de 2011

Semana de Sociais 2011 - 2º dia

A Questão Agrária no Brasil Ontem e Hoje

O segundo dia da Semana de Ciências Sociais teve, na sala 34, a apresentação de um documentário realizado pelos alunos da Escola da Vila, chamado Rasgos da Terra. Após a exposição do filme – que é um curta metragem feito com trechos selecionados de um longa que ainda está em edição –, os alunos Leonardo Cordeiro e Matheus Preis contaram um pouco de sua experiência com os moradores do Acampamento Santa Maria da Conquista, no interior paulista.


Sobre o filme apresentado, expuseram os motivos da escolha das personagens presentes serem todas mulheres. Segundo eles, trouxeram esta proposta, pois elas configuram um meio de ligação da família e da luta, além de serem estas que permanecem no acampamento, junto com crianças e adolescentes, organizando-o, enquanto os homens dirigem-se ao trabalho.
Em seu documentário, sobretudo, buscam mostrar estes agentes tão importantes à luta pela terra e de tão pouca evidência nos meios de comunicação: os indivíduos acampados.

A Relevância do Movimento de Favela para a Cidade de Santo André

Também na sala 34 da Fafil, ocorreu a exposição de Edinilson Ferreira dos Santos, membro do Movimento de Defesa dos Direitos dos Moradores em Núcleos Habitacionais, o MDDF. Seu tema - A Relevância do Movimento de Favela para a Cidade de Santo André - abordou a importância de se discutir esta questão na cidade, uma vez que esta conta com um grande número de indivíduos que se encontram nestes ambientes, como nos bairros Sacadura Cabral, Tamarutaca, Palmares, etc.
Edinilson iniciou sua fala contando sua trajetória desde 1998, quando foi representante do MDDF no Jardim Cristiane, passando pela primeira década de 2000, onde ocupou cargos na Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação e no Semasa, entre outros, até se tornar Presidente do MDDF. Edinilson é formado em Gestão Ambiental.
O passo seguinte foi dar uma síntese do histórico da questão habitacional no Brasil, desde a prevalência de cortiços e vilas operárias nas cidades nos anos 1930, passando pela expansão da industrialização, principalmente no Governo JK, até chegar às condições atuais. Nesta parte, é dada ênfase à explosão urbana de Santo André nesta trajetória, trazendo consigo as contradições internas dessa dinâmica.
Após isso, o palestrante contou um pouco da história do MDDF, desde os acontecimentos da década de 1970 e 1980 e que fomentaram a necessidade de criação do movimento, criado em 1977 e registrado em 1987.
Os desafios continuam (como nos casos de desapropriações na cidade, em setembro deste ano) e o movimento vem buscando se impor para superá-los.
Para conhecer mais acesse: http://mddf.org.br/ e http://facebook.com/MDDF.SantoAndre.

A Crise Mundial

No auditório, aconteceram as palestras de Jorge Grespan (USP) e Valério Arcary (Cefet) dando sequência às atividades da Semana de Ciências Sociais 2011.
O professor Grespan trouxe o tema O Negativo do Capital, e abriu sua fala tratando da economia mundial na década de 1990 – principalmente a economia estadunidense –, quando havia a oscilação das propostas de políticas keynesiana e neoliberal. A primeira é sufocada pelo discurso liberal de que o keynesianismo se baseava em excessivos gastos públicos, os quais eram escassos desde a década de 1970, quando ocorreram enormes dispêndios das potências devido a Guerra Fria. Assim, sobressai a proposta neoliberal, com sua postura privatizante.
Com esta vitória, o discurso neoliberal é carregado com a ideia de que não haveria mais crises, o que pudemos observar com a atual crise ser uma inverdade. Crise esta originada no dinamismo dado à economia mundial pelas empresas que lançaram, na última década do século passado,um grande número de ações na Bolsa de Valores baseadas em lucros que nunca vieram.
O professor expôs como o alemão Karl Marx demonstrou em O Capital o desenvolvimento do capital, revestindo-se mais e mais em determinações, complexificando-se, e, além disso, abriu perspectivas, descrevendo diversas formas de crise deste “trabalho acumulado”, uma vez que o capital vai evoluindo, se modificando,vai sendo acumulado e a taxa de lucro vai caindo. Isto força que os detentores do poder econômico façam desvios de seus investimentos para outros setores, como o de crédito e o imobiliário, contribuindo para agudização das contradições inerentes do sistema. Logo, o capital nada mais é do que valor que se valoriza. E a crise é valor que se desvaloriza, explicitando a existência de um sentindo negativo no sistema. Logo, como colocou o professor Grespan, o desenvolvimento do capital também fomenta aquilo que é contrário a ele. Contrariedades que se encontram materializadas na luta de classes.



Na sequencia, o professor Arcary palestrou sobre A Crise Econômica de 2008-2011: o Capitalismo Está se Aproximando de seus Limites Históricos? dando uma interpretação distinta daquela mais comumente divulgada pela grande mídia e pelo empresariado.
O professor iniciou sua exposição colocando aquilo que a crise atual não é. Ou seja, ao contrário daquilo que é largamente apresentado, o momento crítico pelo qual a economia mundial passa não é decorrente do fracasso do modelo de Estado de Bem Estar Social, colocado como fator fundamental por ter fornecido uma “vida fácil” aos jovens de hoje, dando-lhes no passado recente escola, saúde, bolsas para os desempregados etc., fazendo com que o sistema tivesse uma queda.
Outro discurso que se busca passar ao mundo é de que a crise foi impulsionada pela inadimplência. Quer dizer, os indivíduos dos países centrais compraram o que não tinham condições de pagar, como é o caso dos 10 milhões de estadunidenses que compraram suas casas e não conseguiram quitá-las, hipotecando-as.
Na realidade, os EUA e os países europeus enfrentam o desemprego, queda salarial e outras dificuldades devido às condições que os capitalistas (inclusive os destes países) encontraram na mão-de-obra – especialmente – asiática, bem como pelo funcionamento do capitalismo moderno que, como expressou o professor Arcary, assemelha-se ao de um cassino. Neste funcionamento – principalmente nos EUA, no período George W. Bush – há uma tremenda desregulamentação econômica, e uma multiplicação dos derivativos, o que, em conjunto com a estagnação do salário médio desde os anos 1980, inflou o preço de todas as mercadorias, parando o movimento econômico necessário à reprodução capitalista e levando à bancarrota diversas empresas e bancos.
As manifestações atuais em todo o mundo mostram que é possível alterar a agenda política, derrubar governos, buscar novos programas políticos, etc. Como deixou claro o professor, há perspectiva de uma virada histórica e este é um novo capítulo da luta de classes, pois o capitalismo não morre de morte natural.

Por Guilherme Sávio Marchi

Acompanhe a programação da Semana:

PALESTRAS

Local: Auditório da Fafil
Horário: 20h00

19 de outubro - Renovações do Marxismo
Leituras de Gramsci – Lincoln Secco (USP)
Lukács e o debate sobre a arte de vanguarda – Leandro Cândido de Souza (CUFSA)

20 de outubro - Crise do Capital e Perspectivas de Futuro
Marx e a crítica do trabalho no capitalismo – Mário Duayer (UFF)
Marx e a crise do capital – Ivan Cotrim (CUFSA)

21 de outubro - Insurreições no Mundo Árabe
Insurreições árabes: dilemas e caminhos – José Arbex (PUC-SP)
Revolução do Egito: o que o mundo está presenciando? – Luis Gustavo Porfírio
A Primavera Árabe em chave revolucionária – Simone Ishibashi

COMUNICAÇÕES DE PESQUISA

17 e 21 de outubro – 18h00 – Sala 33 – Fafil
Inscrições até 15/10: www.colegiadosociais.com/semana2011
Coordenação: Prof. Lívia Cotrim

DEBATES E EXPOSIÇÕES

Horário: 18h00 às 20h00

17 a 21 de outubro - A Questão Agrária no Brasil Ontem e Hoje
Sala 34 – Fafil Coordenação: Prof. Marineide S. L. Santos

17 a 21 de outubro - A Revolução no Norte da África e no Chile
Sala 32 – Fafil Coordenação: Hugo Ariel Alvarez, Caio Giovanni Santos e Renata Vieira da Silva
18 de outubro O movimento chileno – Miguel Tavares de Almeida
20 de outubro As insurreições africanas – Miguel Tavares de Almeida

19 de outubro - Ciências Sociais, Educação e Sociedade Capitalista
Sala 33 – Fafil Bruno Monteforte

20 de outubro - Ciências Sociais, Mercado de Trabalho e Compromisso Ético
Sala 33 – Fafil Marcos Melão Monteiro

20 de outubro - A Copa de 2014 e seu legado (anti)social para o futebol paulista: apontamentos
Sala 34 – Fafil Kadj Oman (ANT – Associação Nacional dos Torcedores e Torcedoras)
Coordenação: Erik das Dores e Guilherme Sávio Marchi

MOSTRA DE CINEMA

Local: Auditório da Fafil
Horário: das 18h00 às 20h00
Coord.: Michel da Silva e Willer de Oliveira

19 de outubro - Fela Kuti – A Música é a Arma
França, Stéphane Tchal-Gadgieff e Jean Jacques Flori, 1982, 53 min.

20 de outubro - Zeitgeist
EUA, Peter Joseph, 2007, 118 min.

21 de outubro - Cortina de Fumaça
Brasil, Rodrigo Mac Niven, 2010, 88 min.

ENCERRAMENTO

22 de outubro
Local: ALPHARRABIO Livraria e Editora – Rua Eduardo Monteiro, nº 151
13h00 Resistências Populares na América Latina
A Comuna de La Paz – Everaldo de Oliveira Andrade (UNG)
Crônica de tempos difíceis:aspectos da história contemporânea argentina – Sílvia Elena Alegre
Chile: as mobilizações da juventude e a crise econômica da América Latina – Mayara Conti
16h00 Apresentação musical

Lançamentos:
Ivan Cotrim. Karl Marx – A Determinação Onto-negativa Originária do Valor
Everaldo de Oliveira Andrade. Bolívia: Democracia e Revolução. A Comuna de La Paz de 1971

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