sábado, 22 de outubro de 2011

Semana de Sociais 2011 - 5º dia

As palestras que animaram o auditório nesta sexta-feira, dia 22/10, foram protagonizadas por LG, José Arbex Jr. e Simone Ishibashi. A composição da mesa, formada por um homem moço, por um homem já mais experiente, e por uma jovem mulher, revelou posições bastantes diferenciadas no tocante aos processos de sublevação dos povos árabes. Apesar das diferenças, porém, houve alguns pontos comuns e preponderou o debate fraterno e a livre exposição de ideias.
José Arbex Jr. iniciou as falas discorendo o sobre o caráter novo do processo em curso, na história da humanidade, mas recusou-se a fazer qualquer comentário sobre a possibilidade de as redes sociais terem causado quedas de ditaduras. A Grécia é representativa de um estado de tensão, que poderá ter desdobramentos inauditos. A Itália, sendo a quarta economia da zona europeia, chama a atenção pela fragilidade econômica que anuncia, e pela possibilidade de explosão de conflitos semelhantes. No tocante à África, após as quedas de ditaduras em Tunísia, Egito, e agora com a morte de Muamar Kaddafi, mostra-se que a Otan entrou na Líbia, assassinou-o e garantiu assim o fluxo do petróleo – elemento de suma importância – para o mundo capitalista, particularmente o europeu. O clima é tenso. A Turquia rompeu com Israel, após a desagradável e bárbara recepção da flotilha da paz que saiu de seu porto rumo à Palestina, violentamente interceptada pelas forças armadas israelenses. Neste contexto, o Irã nada fez, além das bravatas e insultos de Ahmadinejah. A questão do petróleo agrava-se com o fato de que a Arábia Saudita complicou-se ao enviar tropas ao Bahrein, auxiliando na repressão – por ter com isso causado má impressão (a de ter violado espaços sagrados do Islã, em favor de potências ocidentais), e assim criou instabilidades internas e conflitos com a população. Ao capital, as alternativas que se mostram podem refazer soluções do passado, como destruir forças produtivas para ter novamente de reconstruí-las, promovendo para tanto uma guerra entre Israel e Irão – regionalizando assim um conflito que é, na realidade, muito maior. Pode haver um processo de tomada de poder pelos trabalhadores, ao estilo soviético; como pode haver também a ascensão de um grupo fundamentalista extremista que venha a instalar um regime teocrático. Temos um longo processo pela frente, que poderá ser permeado pela guerra. Já respondendo a perguntas, disse Arbex que pouco podemos fazer de nosso lugar; vivemos uma crise de humanidade, com 1 bilhão de pessoas a passar fome, outro tanto a sofrer pestes, outro tanto a sofrer com desastres. Cá no Brasil temos 22 milhões a morrer de fome, de modo que é pretensioso querer resolver os problemas do Oriente Médio, se não resolvemos os nossos. O que podemos fazer é refletir e pensar, num exercício semelhante ao de quem tira uma fotografia.
LG, por sua vez, relembrou sua exposição anterior, quando acabava de vivenciar a célebre derrubada do ditador Hosni Mubarak na Praça Tahrir, pela bravura e teimosia do povo egípcio. Ponderou que tratava-se agora, até pela composição da mesa, de fazer outra análise. Traçou portanto um breve histórico do nacionalismo árabe (elogiado por Arbex, por bem feito), encabeçado por Nasser, em sua guerra vitoriosa contra Israel, o que possibilitou estatizar o canal de Suez, e diversas empresas. O Egito ganhou assim um papel chave de liderança no mundo árabe, e Hosni Mubarak deu seguimento a tal política, embora promovendo algumas privatizações. No entanto, tinha enorme prestígio, por ter confrontado por de três a cinco vezes Israel, por vias bélicas. Sua queda, pela ação das massas, desvendou a face do regime, e agora passam a aparecer situações antes camufladas, como a da íntima ligação entre o regime e o imperialismo, entre o governo e o enriquecimento pessoal de generais, donos de empresas terceirizadas controladas pelo exército (empresas estatais). Com isso, a revolução do Egito ganhou centralidade e espalhou-se pelo mundo árabe, cuja tensão, conflito e revoluções continuam potencialmente vivas.




Simone Ishibashi, apesar do efeito colateral medicamentoso que lhe exigiu, ao longo da exposição, constante refresco da garganta via ingestão d’água, falou com desenvoltura e bem. Começou por definir o significado do termo “Primavera Árabe”, tirado de outra situação, já passada, a Primavera dos Povos, de 1848 – dois contextos históricos que guardam de fato semelhanças. O processo iniciado em 1848 chegará ao seu término com o golpe de Estado perpretado pelo famigerado Luís Bonaparte, nosso conhecido “o sobrinho do tio”. Em ambos os casos, um contexto de revoltas populares se expalha como uma onda por diversos territórios, como agora. Em nosso caso, porém, não há, porém, como lá também não havia, centralidade da classe trabalhadora na direção do processo. Hoje, a derrubada dessas ditaduras no norte da África e Oriente Médio não põe em xeque a estrutura econômica. Em muitos desses países, com o nacionalismo árabe surgido em meados do século XX, criou-se o que aqui poderíamos chamar de um welfare state (ela não usou este termo), uma espécie de estado de bem-estar social que, no Egito, por exemplo, deu educação gratuita ao povo, numa política de subordinação política ao Ocidente, ao Imperialismo, e repressão política às massas. Com este estado de coisas desmantelado, com a crise, tudo veio abaixo. As revoltas vieram e, assim, encerrou-se o primeiro capítulo da Primavera Árabe com suas deficiências: ninguém levantou na praça Tahrir bandeiras contra o Imperialismo, contra os acordos de Camp Davis, por exemplo. Agora, abre-se um segundo capítulo que indica uma reversão destes pontos débeis, em que estes acordos possam ser postos em questão, pondo igualmente em questão o conselho militar que hoje dirige o país – fato proporcionado exatamente pela debilidade e marginalidade proletária no processo inicial. Põe-se e impõe-se portanto a necessidade de dizer que ainda não houve revolução, nem centralidade da classe trabalhadora. Já a responder perguntas, disse que não há, no jargão marxista, a intenção de acoplar significado pejorativa ao termo “massas”, por parte de quem se proponha a dirigir os atos e a direção política; o papel do setor dirigente é lembrar às massas da força que elas têm e tiveram ao longo da história, como na Rússia, tomando o poder e fazendo uma revolução, enfrentando sete exércitos e imperialistas que a cercavam, e finalmente vencendo.

Texto e Charge por Roksyvan Paiva

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