quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Semana de Sociais 2011 - 3º dia

Ciências Sociais, Educação e Sociedade Capitalista

Nesta quarta-feira, a programação da Semana de Ciências Sociais se iniciou com a discussão comandada pelo ex-aluno do CUFSA, Bruno Monteforte, com a temática Ciências Sociais, Educação e Sociedade Capitalista.
Ao expor como se apresenta a sociedade capitalista em que vivemos, Bruno lembrou que a escola é um instrumento de dominação e conformação dos indivíduos, uma vez que é subsumida pelo capital. Assim, a educação tem como papel a formação de mão-de-obra de acordo com as necessidades do sistema. Hoje em dia, por exemplo, o capitalismo impõe a formação de mão-de-obra com característica de gerência, que tenha conhecimento em automação, que seja flexível e que saiba lidar com imprevistos. Bruno também colocou que, quando há uma reestruturação produtiva, existe também uma readequação dos conteúdos educacionais. Esta readequação engloba toda a instituição e o aparato superior, responsável pela determinação do programa de ensino. Assim, ocorre que os professores – já sendo mão-de-obra precarizada no ensino público – muitas vezes desistam de suas convicções e anseios humanistas.
Como explicitou Bruno, o professor que tem a intenção de proporcionar um ensino com algum conteúdo crítico, tem que enfrentar obstáculos praticamente sozinho. Nas diversas escolas, com variadas condições materiais e em distintas localidades, cabe ao professor buscar a forma mais adequada de diálogo com seus alunos. Enfatiza Bruno que, neste diálogo, é de suma importância que sempre esteja presente a realidade do aluno. Logo, cabe ao professor com formação crítica e humanista passar estes valores aos educandos. Mesmo a escola não sendo a origem do problema, é mais um meio que precisa ser apropriado para que se consiga uma superação da lógica vigente.

Renovações do Marxismo

Os debates centrais que acontecem no auditório da Fafil contaram hoje com as presenças dos professores Leandro Cândido de Souza (CUFSA) e Lincoln Secco (USP). O primeiro a realizar a exposição foi o professor Leandro, que tratou do tema Lukács e o Debate sobre a Arte de Vanguarda. Para começar, o professor contemplou um pouco a trajetória intelectual de György Lukács, tratando brevemente de seu período pré-marxista, quando assumia uma posição idealista, com grande influência de Kant e Hegel. A mudança desta concepção ocorre quando irrompe a 1ª Grande Guerra e logo em seguida ocorre o triunfo da Revolução Russa de 1917.
Seu aprofundamento na teoria marxiana sucede quando é exilado em Moscou e tem contato com obras inéditas de Marx, como os Manuscritos Econômico-Filosóficos. Assim, Lukács faz uma renovação da teoria marxiana, principalmente no que tange a arte e, posteriormente, a ontologia. O professor diz como Lukács, na década de 1930, expõe o expressionismo como uma arte repleta de um conteúdo irracionalista, sendo então uma vertente admirada na Europa devido a ascensão do nazismo (concepção política irracionalista). Leandro frisa que o expressionismo e o irracionalismo não criaram o nacional-socialismo alemão, mas serviram para desarmar a organização dos trabalhadores para o enfrentamento destas forças despóticas.
O professor citou também como Lukács concebe o “romance” como a forma literária do mundo burguês, sem a presença do herói titânico – presente nas epopéias e que encarnava os anseios, os costumes, as tristezas, etc. dos indivíduos do momento de construção das obras. Assim, o pensador húngaro não aceita as formas literárias da “arte de vanguarda”, uma vez que esta apresenta a decadência da cultura e do mundo burguês. Esta vanguarda faz apologia ao mundo com está, visto que não compreende a realidade da relação sujeito-objeto, do contexto histórico, etc. Leandro conclui que, para Lukács, o papel verdadeiro da arte é proporcionar que o indivíduo que a contempla se reconheça enquanto ser genérico; é fomentar a autoconsciência do gênero – inexistente na arte de vanguarda –, algo que só pode ser conseguido pela leitura fiel e, quando necessária, pela renovação dos estudos de Marx.

Em seguida, o professor Lincoln falou sobre as Leituras de Gramsci. Tratou do tema em duas partes: primeiramente fazendo a exposição das possíveis leituras das obras do estudioso italiano. Na segunda, elaborou um pouco a atualidade dos conceitos empregados por Antonio Gramsci em seus estudos. Assim, abordou a recusa de Gramsci às sistematizações bibliográficas. É evidente em seus escritos o combate ao pensamento burguês e, mais ainda, às formas estruturais em que estes pensamentos estão estabelecidos.
Lincoln pontuou como as edições dos diversos escritos de Gramsci em obras acabadas – apesar não terem alterado substancialmente o conteúdo – efetuaram um direcionamento da sua compreensão. Tanto é que nos anos 1970 foi possível encontrar apreensões conflitantes sobre este autor, como concepções neofascistas e revolucionárias o tendo como influência. Por outro lado, estas compilações proporcionaram que um maior número de pessoas tivesse acesso à sua visão de mundo.
Ainda hoje, as citações de Gramsci são frequentes. Como o professor disse, os conceitos defendidos por ele ainda são de grande importância – mesmo que talvez seja necessária uma renovação de alguns, como o próprio Gramsci tinha consciência de que no futuro provavelmente fosse necessário. Podemos ver a relevância atual destas categorias quando recentemente Chico de Oliveira escreveu o artigo Hegemonia às Avessas, debatendo a conceituação de “hegemonia” gramsciano. Ou ainda quando olhamos um pouco para o passado recente e constatamos que na Europa e na América Latina triunfaram os partidos políticos de esquerda na esfera eleitoral, mas que estes fracassaram nos valores defendidos – situação com a qual o professor Lincoln faz uma assimilação aos conceitos de “pequena política” e “grande política” de Gramsci.
O professor concluiu sua fala lembrando como Gramsci voltou a Marx e Lenin para apreender suas concepções, renovando aquilo que julgava necessário. Voltar a estes expoentes do pensamento crítico ao mundo segue sendo um de nossos dilemas.

Por Guilherme Sávio Marchi


Acompanhe a programação da Semana:

PALESTRAS

Local: Auditório da Fafil
Horário: 20h00

20 de outubro - Crise do Capital e Perspectivas de Futuro
Marx e a crítica do trabalho no capitalismo – Mário Duayer (UFF)
Marx e a crise do capital – Ivan Cotrim (CUFSA)

21 de outubro - Insurreições no Mundo Árabe
Insurreições árabes: dilemas e caminhos – José Arbex (PUC-SP)
Revolução do Egito: o que o mundo está presenciando? – Luis Gustavo Porfírio
A Primavera Árabe em chave revolucionária – Simone Ishibashi

COMUNICAÇÕES DE PESQUISA

21 de outubro – 18h00 – Sala 33 – Fafil
Inscrições até 15/10: www.colegiadosociais.com/semana2011
Coordenação: Prof. Lívia Cotrim

DEBATES E EXPOSIÇÕES

Horário: 18h00 às 20h00

17 a 21 de outubro - A Questão Agrária no Brasil Ontem e Hoje
Sala 34 – Fafil Coordenação: Prof. Marineide S. L. Santos

17 a 21 de outubro - A Revolução no Norte da África e no Chile
Sala 32 – Fafil Coordenação: Hugo Ariel Alvarez, Caio Giovanni Santos e Renata Vieira da Silva
20 de outubro As insurreições africanas – Miguel Tavares de Almeida

20 de outubro - Ciências Sociais, Mercado de Trabalho e Compromisso Ético
Sala 33 – Fafil Marcos Melão Monteiro

20 de outubro - A Copa de 2014 e seu legado (anti)social para o futebol paulista: apontamentos
Sala 34 – Fafil Kadj Oman (ANT – Associação Nacional dos Torcedores e Torcedoras)
Coordenação: Erik das Dores e Guilherme Sávio Marchi

MOSTRA DE CINEMA

Local: Auditório da Fafil
Horário: das 18h00 às 20h00
Coord.: Michel da Silva e Willer de Oliveira

20 de outubro - Zeitgeist
EUA, Peter Joseph, 2007, 118 min.

21 de outubro - Cortina de Fumaça
Brasil, Rodrigo Mac Niven, 2010, 88 min.

ENCERRAMENTO

22 de outubro
Local: ALPHARRABIO Livraria e Editora – Rua Eduardo Monteiro, nº 151
13h00 Resistências Populares na América Latina
A Comuna de La Paz – Everaldo de Oliveira Andrade (UNG)
Crônica de tempos difíceis:aspectos da história contemporânea argentina – Sílvia Elena Alegre
Chile: as mobilizações da juventude e a crise econômica da América Latina – Mayara Conti
16h00 Apresentação musical

Lançamentos:
Ivan Cotrim. Karl Marx – A Determinação Onto-negativa Originária do Valor
Everaldo de Oliveira Andrade. Bolívia: Democracia e Revolução. A Comuna de La Paz de 1971

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